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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

NATÁLIA MENHÉM

( BRASIL – MINAS GERAIS )

 

 

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (Agosto/2010).
Atualmente é cientista social/socióloga, e trabalha na Limiar Engenharia Ambiental, onde atua na área de socioeconomia do licenciamento ambiental, através de levantamentos socioeconômicos, elaboração de Estudos de Impacto Ambiental, Planos de Controle Ambiental, e demais atividades da área.

Informações coletadas do Lattes em 21/10/2022

 

ENTRELINHAS , VERSOS CONTEMPORÂNEOS MINEIROS.   Organização: Vera Casa Nova, Kaio Carmona, Marcelo Dolabela.  Belo Horizonte, MG:  Quixote + Do Editoras Associadas, 2020.  577 p.  ISBN 978-85—66236-64—2            Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

  Vapor

apesar de toda urgência
e tateio com cuidado,
você me olha fundo,
respiro toda, ando...

apesar de todo cuidado
te aperto com urgência,
você me morde com vontade
viro água, somos rio.

você é sempre outro,
sou sempre outra eu,
talvez nunca nos acostumemos,
não por completo...

apesar de tod urgência
e de toda a presença
apesar de todo cuidado
e de tanto tato

acordo com marcas
que só dizem de quem fomos
e a cada instante uma porção de nós
se desata e outra então se tece.

apesar de nosso nós, agora
já somos outros eu, você, nós
(o mistério parece inesgotável)
e eu ainda águo por você.

apesar dos pesares, aprendi
a respirar
a esperar
a observar

se me derramo toda
é porque só é para ser
o que for pra brotar.


Com os pés na lama

a barata é o medo.
a barata é a sombra..
nosso tão vivo esgoto,
incontrolável desgosto.
o nojo da nossa lama
em movimento.

[
títulos inspirados na música Com
os pés na lua,
de Aloísio Horta]



Com os pés na terra

coração nas nuvens,
respirar. Cabeça:
Corpo a dançar, e,
pra onde for, caminh—
ar

com os pés no chão, observ-
ar: o que leva e traz
o ar

com os pés na terra, fest—
ar o que de nós brota e seme-
ar o que é para brotar

com o tempo que vem, agra-
descer: o que foi, o que é,
o que só com o tempo será.

sobre o vento que vai, precipit—
ar tudo aquilo que perdemos
imagin—
Ar.


Com os pés no céu

criar universos
onde o azul do céu
encontra o ipê-rosa.

caminhar sob o sol que
reflete o céu, o ipê e
todo o meu bem querer.

sobre as pétalas do ipê,
alimentar a fantasia
e caminhar para o lugar
onde tudo se encaixa

e o que não se encaixa
também pertence...
também
pertence.

saber que já somos
aquilo que viemos nos tornar.
e é tão bom...

é tão bom,
e ainda assim,
algo vai mudar...


Descontinuidades

as más notícias seguem dispersas
entre corriqueirices
do dia a dia

oprimindo

comprimindo

excluindo

quem talvez nem
se lembre o fazer parte, nem se lembre do que é ser sem ter dúvida de quem se é, do que se sente do que se sabe.                                                                         se sabe.

não é que haja
certo ou errado na realidade,

não é, nem mesmo
que haja realidade.

é que algumas
pessoas nasceram pra estarem certas, outras pra estarem                                                                  cerradas e, pra essas, cada passo novo é uma dúvida atroz,
quase um passo em falso, quase um passo atrás.

pois tem sido
sempre assim, pois nunca foi diferente. e, mesmo que ter
sido sempre assim não seja motivo pra continuar sendo,
não é o que se propaga, não é o que se escuta, não é o que
se apoia...

assim permanece
a angústia da dúvida e os autoquestionamentos,

quando o que anda
errado é o coletivo todo e, nos finalmentes, se sofre
individualmente

uma culpa que
não é sua

um erro que não
é seu

um papel que não
se encolheu.

tem sido sempre
assim pois nunca foi diferente,

pois mudar o que
é sempre assim exige esforço

— mas esforço
do que as tão elogiadas boas intenções

(que enchem um
interno e meio)


boas intenções
nasceram pra manter as coisas como são, como se
bastasse
querer pra mudar o que foi construído

e ferro e fogo,

por anos,

anos

e anos...

mão soframos a
culpa que não é nossa — mas a plantaram ali...

um erro que não
é nosso — mas nos disseram que sim.

há muita força
em carregar tanto peso, há muita força nos papéis
exercidos.

há muita força
sendo disfarçada — pra não assustar os desprecavidos.

é preciso presença

pra descontinuar
o que se renova

em todos as nebulosidades
possíveis

(se
fosse óbvio, seria mais fácil lutar contra)

encontraremos a
força escondida e os poros de saída

para todas as
vozes e as vezes suprimidas.


ter sido sempre
assim

não é motivo pra
continuar.

mas pra descontinuar,,

prins-ci-pal-men-te
em caso de dúvidas


 

 

 
 
 
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